SIиӕsTɘsIα

domingo, 30 de janeiro de 2011

Atalho

Quanto tempo a gente perde na vida?

Se somarmos todos os minutos jogados fora, perdemos anos inteiros.

Sim, depois de nascer, a gente demora pra falar, demora pra caminhar, etc.

E aí mais tarde demora pra entender certas coisas.

Demora, também, para dar o braço a torcer.

Viramos adolescentes (aborrecentes) teimosos e dramáticos.

E levamos um século para aceitar o fim de uma relação.

E outro século para abrir a guarda para um novo amor.

Quando, já adultos, demoramos para dizer a alguém o que sentimos.

Demoramos para perdoar um amigo.

E demoramos para tomar uma decisão.

Até que um dia a gente faz aniversário.

37 ou 41 anos.

Talvez 50 e tal....

Uma idade qualquer que esteja no meio do trajeto.

E só aí a gente descobre que o nosso tempo não pode continuar sendo desperdiçado.

Fazendo uma analogia com o futebol, é como se a gente estivesse com o jogo empatado, no segundo tempo, e ainda se desse ao luxo de atrasar a bola pro goleiro.

Ou fazer tabelas desnecessárias.

Quanto esbanjamento.

E esquecemos que não falta muito pro jogo acabar...

Sim, é preciso encontrar logo o caminho do gol.

Sem muita frescura, sem muito desgaste, sem muito discurso.

Pois tudo o que a gente quer, depois de uma certa idade, é ir direto ao assunto.

Excetuando-se no sexo, onde a rapidez não é louvada, pra todo o resto é melhor atalhar.

E isso a gente só alcança com alguma vivência e maturidade.

Pessoas experientes já não cozinham em fogo brando.

Não esperam sentadas, não ficam dando voltas e voltas.

E não necessitam percorrer todos os estágios.

Queimam etapas.

Não desperdiçam mais nada.

Uma pessoa é sempre bruta com você? Não é obrigatório conviver com ela.

O cara está enrolando muito?

Beije-o primeiro e veja se ele, realmente, interessa e transmite algum sentimento.

A resposta do emprego ainda não veio? Procure outro enquanto espera.

Paciência só para o que importa de verdade.

Paciência para ver a tarde cair.

Paciência para degustar um cálice de vinho.

Paciência para a música e para os livros.

Paciência para escutar um amigo.

Paciência para aquilo que vale nossa dedicação.

Pra enrolação, um atalho.

O maior possível!
 Martha Medeiros
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O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio.
Saramago

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Per cursos

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régio

Mil acasos me apontam a direção
Mil acasos me tomam pela mão
 Por acaso, lua em plenação
Acaso? Esse existe não

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Escolhas - por um João Caminhante




A renúncia é a libertação. Não querer é poder.
Fernando Pessoa

domingo, 9 de janeiro de 2011

Olaria Excelsa

Simplesmente porque são inevitáveis as interações que fazemos com o mundo, orgânico ou não,
Elas sempre acrescentam e modificam algo entre as partes, não deixando inerte ou estático os envolvidos.

Mas a qualidade dessa interação faz toda a diferença para o grau de mudança que ela irá desencadear,
E é preciso receptividade àquilo que pode acrescentar algo de novo.

O diferente é um potencial inexplorado.

E a síntese do novo advém do que está estabelecido, que tende a se desenvolver com o diferente.

É a lei de um mundo em evolução há bilhões de anos,

e eu, sou apenas barro...


Você não pode mudar o vento,
mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer.
Confúcio