SIиӕsTɘsIα

quinta-feira, 25 de março de 2010

não-ser

Era uma vez um pássaro
que por ter sido criado entre os macacos
Pensava também ser macaco...

Alheio às suas asas, junto aos macacos, pulava o pássaro de galho em galho
Sem se importar com sua natureza de pássaro

Um dia o pássaro, ao perder-se de seu bando de macacos
Viu-se encurralado por um gato do mato
E desesperado, saiu pulando de galho em galho, de árvore em árvore por toda a floresta
Até que, sem ter saída, chegou à beira de um desfiladeiro
Olhou pra trás e viu o faminto gato no seu encalço
Olhou pra frente e viu o céu azul e o precipício
Sentiu um desejo muito forte de atirar-se no ar
De flutuar naquele mundo azul

Fechou os olhos, abriu as asas
Mas, ao ouvir o gato, voltou a ser macaco
E na boca do gato foi pássaro
Um pássaro que não sabia que era pássaro
Que sonhava em voar
E terminou mudo, calando sua canção
Num lugar onde ninguém pode escutar

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